"Àquele que é capaz de
fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na
igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre!
Amém!"
(Efésios 3: 16-21.)
J
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á disse outras vezes em palestras que fazemos parte
de um mundo que sofre. Passamos por diversas tribulações que, por vezes, nos
levam ao limite da esperança. No desespero, chegamos a questionar Deus, que
parece não ouvir nossas orações de socorro.
- Onde está Deus, que não responde? Por que ele não
vem até aqui e da um jeito nas circunstâncias que assolam a minha alma?
Bom, aí Deus demora tanto para responder que a gente
acaba por esquecer que Ele existe. Literalmente a gente O abandona e tenta se
virar sozinho. Entretanto, para nossa sorte, a gente está sempre enganado com
relação a Deus e ao seu aparente desinteresse por nossos problemas.
No trecho da Carta de Paulo aos Efésios, acima,
temos a seguinte citação: “Àquele que é capaz de fazer infinitamente
mais do que tudo o que pedimos ou pensamos...”. É clara a afirmação de
que Deus pode realizar muito, mas muito mais do que tudo que a gente possa
imaginar pedir. Mesmo que consigamos pedir tudo o que nos vem à cabeça, peçamos
até chegar ao absurdo, Deus consegue fazer infinitamente mais por nós.
Outro detalhe é que Deus, misericordioso como é,
deseja nos atender nos nossos pedidos. A única diferença é que o tempo dEle é
diferente do nosso. O tempo de Deus é o tempo certo, enquanto que o nosso é o
tempo agora. Nossos pedidos são para ontem.
Então, Deus vai fazer o que pedimos, afinal é isso
que Ele vem fazendo em todo o Texto Sagrado. A nós, então, basta esperar em
oração e perceber como é que Deus vai nos atender.
No mesmo trecho da Carta de Paulo aos Efésios, temos
mais uma citação que chama a atenção: “... de acordo com o seu poder que atua em
nós,...”. Opa! Isso parece
responder à nossa pergunta de onde está Deus! Vejamos!
Paulo diz que o poder de Deus atua em nós. Ele não
diz que “somos Deus”, mas que o seu poder está em nós e esse poder é atuante!
Em outro ponto da Bíblia, Paulo diz o seguinte: “Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim;...” (Gálatas 2.19,20). Note que Paulo não diz que Deus está do seu
lado, protegendo-o das tribulações, mas que Deus está nele e, mais importante,
vive nele!
E Paulo vai mais longe ainda, dizendo que “Tudo
posso naquele que me fortalece”. Ora, só me fortalece aquilo que está
em mim. Um alimento distante não pode me fortalecer. Eu preciso de que esse
alimento esteja em mim. Então Paulo nos dá a resposta para a pergunta de
fizemos. Deus está em nós.
Mas aí você diria: - Ok, Deus está em mim, mas eu,
na maioria das vezes, não O sinto em mim. Como é que consigo isso?
Existe um antropólogo francês, chamado Rene Girrard,
que afirma que nós, humanos, temos um sentimento de falta, um sentimento de vazio
na alma que a gente não consegue explicar. Segundo ele, somos seres desejantes,
mas não sabemos exatamente o que desejamos, então nós imitamos outras pessoas,
a quem julgamos felizes.
Vemos, por exemplo, um ator bonito, bem vistoso e
sorridente numa novela. Gostaríamos, mas como não conseguiremos jamais sermos
exatamente iguais a ele, a gente resolve comprar uma roupa igual à dele ou a
mesma marca de celular ou qualquer outra coisa que nos faça parecidos com ele
e, por consequência, ter a mesma felicidade.
Blase Pascal tem uma visão mais divertida desse
vazio. Comenta que o homem tem um gosto amargo na garganta com o qual terá que
conviver a vida inteira.
Vamos exemplificar: eu andava triste, com aquele
gosto amargo na boca, e resolvi comprar um carro. Isso me fez ficar bem e o
gosto amargo foi embora. Mas, depois de um tempo, enjoei um pouco do carro e o
tal do gosto amargo voltou. Então arranjei uma namorada e isso foi muito bom! O
gosto amargo foi embora novamente. Mas, depois de um tempo, a boca voltou a
ficar amarga.
Então, o que acontece é que agente vai estar sempre
buscando uma maneira de eliminar esse gosto amargo na boca, mas ele está sempre
insistindo em voltar.
E isso vai incomodando e afetando a nossa visão de
felicidade. A gente acaba se rotulando de pessoa infeliz.
Dostoievsk tem uma frase que, creio, represente bem
esse sentimento: “O homem tem dentro de si um buraco do tamanho de Deus”.
Mas, e aí! Como é que a gente vai preencher esse
vazio?
Se você é religioso, lá na comunhão com os seus
irmãos de fé, o jargão diz que você só vai completar esse vazio que existe em
você se entregar sua vida a Deus. E isso tem lógica! Aconteceu comigo!
Não tenho um grande testemunho de vida. Não sou
ex-alcoólatra, ex-ladrão, etc. Sou um ex-nada! Então me sobra isso: dizer que
eu tinha um grande vazio até que encontrei Deus.
E isso, durante um tempo, me fez muito bem. Deus
completou o vazio que existia na minha alma. Só que o gosto amargo voltou!!!
Questionei-me durante bastante tempo, chegando a
colocar em cheque a minha fé em Deus. Será que Ele existia mesmo? – me
perguntava. Ficou comigo um tempo e, depois, foi embora.
Então, o que pode completar esse vazio que nós temos
na alma?
É evidente que a resposta só pode ser “Deus”. Mas
onde está Deus? Quando é que Ele se torna concreto para completar esse vazio?
A resposta está lá na Primeira Carta de João:
“Ninguém
jamais viu a Deus. Mas se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós e em nós
é aperfeiçoado o seu amor”
(Jo.
4,12):
Então, ninguém jamais viu a Deus e parece que jamais
alguém O verá. Estaríamos, portanto, condenados a um vazio perpétuo. Mas, na
sequência do trecho da Carta de João, temos que “se nos amamos uns aos outros,
Deus está em nós e em nós é aperfeiçoado o seu amor”. Ou seja, Deus se torna concreto na minha vida e eu
O experimento quando mantenho uma sincera relação de amor com o próximo.
Não há relação de amor quando a gente se enfronha no
nosso quarto e passa a vida orando e estudando a Bíblia. Ou quando se vai para
um local bem distante de tudo e de todos, deixa a barba crescer e fica lá até a
morte, tentando um contato íntimo com Deus. Só há uma relação de amor quando eu
procuro você. E, quando a gente estabelece essa relação, Deus se torna
presente, passa a existir nas nossas vidas e o gosto amargo vai embora
definitivamente.

E ele tem toda a razão. A felicidade não é
construída na solidão, mas nos relacionamentos de amor que mantemos com as
pessoas ao nosso lado.