
Alguns
minutos depois os tios nos apresentaram Elielson. Um moço cheio do Espírito Santo
e nascido na Bahia - alguém que passou por períodos angustiantes com sua
família vivendo em Guarulhos. O pico da angústia aconteceu quando o filhinho
dele de onze meses contraiu meningite viral. Foram dias de muita batalha, mas devido
a qualidade da fé exercida por eles, as lágrimas foram apenas ponte para o
alcance de muitas bençãos.
Elielson
começou seu testemunho nos propondo ficar de olhos fechados para uma dinâmica,
da qual no final nos acolheu com um abraço dizendo: “Você é precioso(a) aos
olhos de Deus.” Como parte da reflexão sugerida por Elielson ouvimos o trecho
bíblico Matheus (9, 27-30).
As palavras
daquele moço me fizeram pensar nas cegueiras espirituais. Durante sua reflexão
me perguntei com insistência: “Que tipo de vigilante estou sendo internamente?”
Afinal, sem vigilância, dificilmente conseguimos enxergar as reais proporções
de nossas ações.
Um exemplo:
quando enxergamos em nós sentimentos como tristeza, solidão ou depressão,
tendemos a procurar soluções do lado de fora ao invés de cavarmos a raiz da
questão. Impulsivamente dizemos que vamos mudar de vida, mudar de endereço,
mudar de carro. Mas o que acontece é que se não abandonamos a cegueira ela nos
acompanha por onde quer que nós formos. Não assumir isso é como se não gostássemos
de nossas espinhas e quiséssemos mudar o espelho.
Os ambientes
só mudam de verdade quando mudamos internamente. Quando abrimos os olhos de
dentro.
Percebo que
uma das cegueiras mais comuns nos dias atuais é o medo. Não aquele medo natural
e benéfico ao ser humano. Mas um medo descabido, sem endereço. Medo de ter
medo.
Sou do
interior de Minas Gerais e lembro que quando eu era criança ia passear na casa
dos meus avós na roça. Muitas vezes não havia luz e então usávamos velas. Meus
avós e seus vizinhos tinham que se virar com ou sem luz elétrica. Se viravam para
enxergar de alguma forma. Tenho a impressão de que pelo fato daquela época não
existir essa avalanche de informação que vivemos hoje em dia, e também por não
haver tanta pressa para chegar não sei onde, eu percebia no meu avó, em
particular, uma habilidade de se repousar interiormente. Ele parecia de fato conseguir
enxergar de dentro pra fora.
Hoje em dia,
depois de tantos anos fazendo parte do furacão urbano, me vejo na necessidade
de resgatar parte daquele olhar. Parte daquele tempo que posso trazer comigo
aqui dentro em qualquer hora e lugar.
As
necessidades humanas são gigantes e por maior que exista a vontade de nos livrar
das cegueiras vividas e daquelas que possivelmente baterão à nossa porta, tenho
a nítida impressão de que a visão por si mesma não basta. Mesmo que nossos sentidos
humanos estejam em perfeitas condições para enxergar o externo e o interno, existe
uma fonte essencial que sem ela nada feito. A LUZ.
Só é por meio da luz de Deus que conseguimos enxergar de maneira genuína
o que está dentro e o que está fora. O pôr-do-sol na montanha só acontece por
causa da luz. Ao anoitecer a montanha está lá, mas o sol se vai. E com a ausência
da luz, a beleza do pôr-do-sol já não existirá mais.
Saí do nosso pós encontro muito agradecida e feliz por vivenciar as
coisas de Deus ao lado de pessoas tão especiais no EJC. Que a cada dia possamos
cativar mais e mais a Luz do nosso criador em nossas vidas - agregando fé, oração
e quantas obras forem necessárias. Que busquemos diariamente luzes que encandeçam
nossas vidas e a vida de quem convive com a gente. Nós somos muito pequenos,
mas juntinhos e com Deus podemos iluminar a terra.
Sandra Melo