Vendo
as últimas notícias sobre os meus irmãos refugiados, algumas lembranças me
vieram a mente. Lembranças de quando eu era pequeno e meus pais tiveram que
fugir comigo com a roupa do corpo. Tudo sem um motivo aparente ou que
justificasse tal atitude. Conforme fui crescendo, meus pais me contaram pelo
que passaram. Fome, medo, frio, ajuda de estranhos e a lembrança constante de
que poderíamos morrer.
Quando
retornamos o medo permanecia. Minha mãe ainda sem entender tudo plenamente tinha
medo de que quando eu crescesse me juntasse ou formasse algum grupo para lutar
ou qualquer coisa do tipo. Por isso, eu passei despercebido para a maioria das
pessoas até o início da adolescência. Mas eu não podia lutar contra a vontade
dentro de mim. Eu queria um mundo melhor não só para a minha família e pessoas
mais próximas, mas para todas as outras pessoas também.
Foi
então que decidi fazer algo. Sentia que poderia fazer algo.... que na verdade
Deus tinha me dado a vida para fazer algo grandioso e que eu aceitaria morrer
por isso.
Por
isso, me entristece ver centenas de pessoas espremidas em um novo “navio
negreiro” com destino a um país onde elas sabem que serão vítimas de
preconceito e violência por causa de sua cor ou sua religião; que ganharão um
valor muito menor pelo suor do trabalho; que serão vistas como escória; mas que
preferem este “sobreviver” a morrer em sua terra natal. Dói ver pessoas viverem
em abrigos com péssimas condições de higiene, espremidas, vítimas de violência
sexual, muitas vezes separadas de seus familiares, tudo isso porque aquele que
deveria governá-la com justiça prefere expulsá-la de sua terra natal e dizimar
os que ficam... e ao se dispor a servir em um “novo reino” corre o risco de
sofrer nova expulsão.
Quando
hoje vejo pessoas morrendo ao se deslocarem para um lugar melhor, um lugar que
as receba como humanos, o que vejo muitas vezes são os estereótipos sendo mais
uma vez disseminados – que se somam ao de que todo não romano é bárbaro, todo
não judeu não é amado por Deus ou todo judeu é rico, todo negro é inferior e
pode ser subjugado, toda mulher é fraca, entre tantos outros, e agora todo
muçulmano é terrorista – e percebo que com o passar dos anos poucas coisas
mudaram. O homem permanece criando
desculpas para dominar outros homens (na maioria das vezes utiliza da religião
e da distorção de seus ensinamentos). Esquecem que todos os países foram
formados por imigrantes e escravos. Mesmo que não perceba, existe um pouco de escravo
e/ou imigrante em você, na sua esposa, na sua comida e na sua língua. Um
europeu que por séculos utilizou da escravidão nas colônias esquece que durante
muito tempo ele também foi um escravo do império romano. Um governante que
busca impedir a entrada de imigrantes esquece que é neto de imigrante alemão e
possui uma esposa imigrante.
Sei
muito bem o apego que o homem sente pela sua terra de origem. Muitos permanecem
nela mesmo com fome e sede por acreditarem que uma providência divina na forma
de chuva ou qualquer outra benção fará com que a terra volte a ser fértil e
motivo de orgulho. Porém a guerra e a morte eminente conseguem convencê-lo a
procurar um novo lugar porque são causadas por algo pior do que a fúria da
natureza: outro homem.
No
fim, achava o exemplo de vida de um homem tão especial, em comunhão única com
Deus, que passou por diversas provações e que se submeteu a morrer pela
humanidade para salvá-la já seria um bom exemplo a ser seguido e do que o ser
humano precisaria realmente para ser feliz.
Espero
que um dia a humanidade perceba aquilo que lutei tanto para mostrar.
Eu
sou Jesus e fui um refugiado
