Inicialmente o Fábio defendeu a importância de se discutir a relação entre Ciência e Religião, visto que muitas vezes elas estão em posições opostas. E, exatamente por causa de algumas dessas posições, a Igreja é comumente tachada de ser conservadora - conceito este que para um biólogo da conservação não é algo ruim (pesquise definição de conservação para entender o porquê).
Ao mesmo tempo, procurou-se definir o que é Ciência e o que é Religião e delinear seus respectivos campos de atuação. A Ciência (subentende-se aqui como a Ciência Experimental) é o campo do saber responsável pelo estudo e compreensão dos fenômenos da natureza através de hipóteses e experimentos. Já a Religião (qualquer uma) é o campo que procura compreender a natureza (inclui-se o Homem) através da análise do comportamento do espiritual. A partir disso, levantou-se a questão: Como compará-las se elas estão em diferentes áreas do saber?
Segundo Fábio, não há como compará-las pois elas enxergam e analisam cada questão por um método totalmente diferente. Seria como comparar um fenômeno do ponto de vista matemático com o histórico. Para alguns dos jovens presentes, elas se retroalimentam. Primeiro viria a necessidade humana de compreensão do mundo que a cerca e, para tal, cria-se um mito, no qual a crença se baseia; e, a partir deste mito, aparece a ciência como a necessidade de testar o mito (visto como hipótese para esta). Para outros, elas são complementares, a ciência não anula a religião, e sim, ajuda a compreender melhor essa. Independentemente da visão de cada um, foi um consenso (aparentemente) de que a Bíblia não deve ser interpretada sem se analisar a época vigente, pois ela fora escrita por homens, os quais estavam inseridos numa sociedade de uma determinada época.
Para alimentar a discussão, foram introduzidas duas questões polêmicas em que a Igreja adota uma postura considerada conservadora. Uma delas foi as pesquisas com células-tronco.
As células-tronco são células não especializadas, isto é, que podem se especializar em qualquer célula do corpo; e, por isso, apresentam grande potencial de aplicação para tratamentos de saúde. Há três formas tradicionais de se obter as células-tronco: medula óssea, cordão umbilical e embriões (fertilização in vitro). Esta última forma é a que causa toda a polêmica, não apenas no campo religioso, mas também na questão bioética. Isso porque, a retirada das células-tronco do Blastocisto causa a morte do embrião.
Para os defensores da técnica, na etapa do Blastocisto, o embrião não é considerado um ser humano (para alguns ainda nem chega a ser uma vida propriamente dita). Fora esta questão se é vida, ser humano ou nada, há ainda o apelo de parcela da sociedade diante das possibilidades de uso das células-tronco no campo da saúde. A discussão cercou-se nesta questão: Se a Igreja é a favor da vida (qualquer etapa da vida) e se o uso das células-tronco é uma possível opção para tratamentos de doenças graves (alguma das quais sem cura ou de tratamentos mais desgastantes), como Ela deve se posicionar?! A favor da vida do embrião ou de uma pessoa doente?!
Em defesa a vida do embrião, a Igreja condena o uso de células-tronco embrionárias, mas também, não quer prejudicar a vida dos doentes que seriam beneficiados com elas, por isso assume como missão oferecer alternativas para que nenhuma vida seja sacrificada. Uma das alternativas é a pesquisa com Células-tronco Pluripotentes Induzidas (iPSCs, sigla em inglês) desenvolvida na The Pontifical Academy of Sciences (considerada a primeira academia de ciências do mundo, a Academia de Ciências do Vaticano tem como missão promover o progresso matemático, físico e das ciências naturais e os estudos dos problemas epistemológicos relacionados aos mesmos). The Pontifical Academy of Science]
Como biólogo de formação, o Fábio explicou, em termos gerais, esta pesquisa. O objetivo é fazer com que a célula adulta faça o processo inverso, ou seja, volte a ser uma célula não especializada, uma células-tronco. Uma das vantagens das iPSCs é a de que se poderia usar quaisquer células do corpo, embora as pesquisas tenham se limitado a usar as células da pele (provavelmente devido a facilidade de obtenção). Com isso, tem-se a esperança de se eliminar o uso de células embrionárias.
Outra questão polêmica discutida foi sobre a origem do universo, bem como das espécies. Em qual devemos acreditar? Na Teoria do Criacionismo? Na do Bing Bang? Na da Evolução das Espécies? Qual delas é a verdadeira? Essas, entre outras perguntas, já percorreram ou hão de percorrer nossas cabeças por muito tempo. Uma das primeiras coisas comentadas foi a respeito da verdade em si. O que é verdade? Essa é uma pergunta um tanto filosófica, mas a verdade é que verdade pura na sua essência não existe (nem essa verdade que eu acabei de assumir). A verdade é um conceito abstrato, totalmente subjetivo e, além de estar relacionada a pessoa, depende também no meio social e no tempo em que esta se encontra. Mas se aceitarmos que a verdade universal não existe, no que devemos acreditar?! Primeiro, por sermos católicos devemos acreditar de que Jesus é “nosso caminho, e nossa verdade e nossa vida”. Ademais, devemos seguir os ensinamentos da Bíblia, mas sempre considerando que esta fora escrita por homens, os quais não são donos da verdade (além dos motivos expostos anteriormente).
De acordo com o Fábio, é um fato de que o evolucionismo existe, pois este já foi provado (eu não contesto esse fato, já que Biologia não é minha área). Segundo ele, a Ciência responde como isso aconteceu, mas não o porquê disso. Pois, explicar o porquê das coisas é uma tarefa filosófica, cabe a Ciência apenas explicar o como as coisas ocorrem. Assim, seguindo esta linha de pensamento, na Ciência, aceita-se ou não; na Fé (filosofia), acredita-se ou não (linha de pensamento que desqualifica minha aceitação sobre a inexistência da verdade universal). Logo, ele concluiu que se deve dividir a discussão por campo do saber corroborando com a discussão introdutória do tema.
Sendo bem subjetiva, acredito que a filosofia (não a disciplina, mas a filosofia em si) é a ciência mãe, a célula-tronco das ciências, e dela derivam as outras ciências do saber: exatas, da terra, biológicas, da saúde, humanas, sociais, etc. Nós seres humanos pensamos por natureza, e ao pensarmos surgem várias indagações a respeito do meio que nos cerca: Por que vivemos? Como surgiu o mundo? Por que o céu tem estrelas a noite e o sol de manhã? Como aprendemos a falar? Qual a importância da água?
De acordo com a nossa idade, sociedade e recursos (e afinidade) buscamos respostas para as nossas perguntas usando uma ou mais dentre as ciências especializadas. Em se tratando especificamente da Ciência e da Religião, eu acredito que elas se interrelacionam, uma vez que, ao oferecer cada uma o seu respectivo ponto de vista, elas nos possibilitam o melhor entendimento do mundo. Isso porque, nós somos abençoados pelos Dons do Espírito Santo, dentre eles, o do Entendimento (ou da Inteligência) - Dom Divino que recebemos para melhor compreendermos o mundo em que vivemos e, assim, nos aproximarmos mais de Deus. Em outras palavras, cabe a cada um de nós, dentro das nossas capacidades e conhecimentos fazer as correlações entre elas e aprendermos a enxergar a mão de Deus em todas as coisas.
“Todo aquele que está seriamente comprometido com o cultivo da ciência chega a convencer-se de que, em todas as leis do universo, está manifesto um espírito infinitamente superior ao homem e diante do qual nós, com nossos poderes, devemos nos sentir humildes.” Albert Einstein [Confissão de fé de 25 cientistas].
Muitos dos cientistas famosos também eram religiosos (católicos ou não), e não deixavam sua fé de lado em nome da ciência. Nem tinham conflitos entre seus estudos e sua religião. Para eles, o quanto mais aprendiam e/ou descobriam sobre a natureza e seus fenômenos, mas grandiosa era a obra de Deus. Kepler (astrônomo), Newton (físico), Ampère (físico), Cauchy (matemático), Gauss (matemático), Liebig (químico), Eddingtong (astrônomo), Einstein (físico) e Plank (físico), eram alguns desses cientistas.
“Eu me tornei crente à minha maneira, pelo microscópio e a observação da natureza, e quero, na medida em que estiver ao meu alcance, contribuir para a plena concórdia entre a ciência e a religião.” C.L. Schleich [Confissão de fé de 25 cientistas].
Enfim, perdoem-me pelo tamanho do texto e pela abordagem simplista, mas sinceramente espero ter contribuído para aqueles que não vieram tenham uma ideia do que foi discutido no Pós (e também, para os que vieram, mas perderam/esqueceram uma parte, revejam o que aconteceu). Obrigada pela atenção e esta fui eu, Kelly Fiama, repórter por um dia do Pós-Encontro.
“Posso garantir, com toda decisão, que a negação da fé carece de toda base científica. A meu ver, jamais se encontrará uma verdadeira contradição entre a fé e a ciência.” Millikan [Confissão de fé de 25 cientistas].